– Os amores proibidos de D. Pedro I –
Nem todas datas que marcam a História de um país assinalam acontecimentos grandiosos. Por vezes também assinalam acontecimentos de má memória. E às vezes há datas que lembram episódios que podem nem parecer importantes, mas que acabam por criar lendas que são lembradas ao longo dos séculos. Foi isso que aconteceu com esta história...
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D. Afonso IV de Portugal (autor desconhecido) |
Depois da morte do rei D. Dinis, subiu ao trono o seu filho, D. Afonso IV. Este tinha como herdeiro D. Pedro, que casou com uma nobre castelhana, D. Constança. Quando D. Constança chegou a Portugal, em 1340, trazia, como uma das suas damas de companhia, uma fidalga galega, D. Inês de Castro, por quem D. Pedro se apaixonou perdidamente. Esta relação de infidelidade levou D. Afonso IV a obrigar D. Inês a voltar para Castela. Mas, quando D. Constança morreu, em 1349, D. Inês regressou a Portugal e foi viver com D. Pedro como sua mulher (ainda que não fossem casados). Desta relação entre D. Pedro e D. Inês nasceram quatro filhos – que seriam reconhecidos como legítimos alguns anos mais tarde. Porém, este romance apaixonado entre o herdeiro do trono português e uma nobre galega não era do agrado dos nobres e do rei D. Afonso IV. Criticavam a relação adúltera (e para alguns era mesmo incestuosa, porque D. Pedro e D. Inês eram primos em segundo grau), e o facto de terem tido filhos podia ser um risco para o herdeiro legítimo de D. Pedro. Além disso, D. Inês fazia parte de uma poderosa família de Castela e D. Pedro podia correr o risco de se deixar influenciar pelos nobres castelhanos. Foi assim que D. Afonso IV ordenou, em 1355, a morte de D. Inês de Castro. D. Inês foi executada no dia 7 de janeiro desse ano.
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D. Pedro I de Portugal (autor desconhecido) |
A história de Pedro e Inês tornou-se uma lenda e, como todas as lendas, já não se sabe bem o que é verdade ou mentira. O certo é que é uma história que ainda hoje continua a fazer sonhar os mais românticos...
– A Quinta das Lágrimas –
Diz a lenda que o nome dado ao local onde D. Inês de Castro terá sido executada – a Quinta das Lágrimas, em Coimbra – se ficou a dever às lágrimas derramadas por D. Inês ao ser morta pelos seus carrascos. Das suas lágrimas terá também surgido a Fonte das Lágrimas, que lembra a sua injusta execução e que recordará, para sempre, a todos os que a visitarem, o amor trágico entre os mais famosos apaixonados da História de Portugal.
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Vista da Quinta das Lágrimas, em Coimbra |
– D. Pedro I –
Depois da morte de D. Inês, D. Pedro revoltou-se contra o pai, numa guerra que duraria alguns meses. Com a morte de D. Afonso IV em 1357, D. Pedro tornou-se rei de Portugal. Quando subiu ao trono, D. Pedro perseguiu, prendeu e mandou matar os assassinos de D. Inês. Aos que criticavam a relação ilegítima respondeu revelando que tinha casado em 1353 e que os filhos de ambos eram, assim, filhos legítimos.
Este romance entre D. Pedro e D. Inês viria a gerar uma verdadeira lenda. Um dos episódios desta história diz que D. Pedro mandou coroar, depois de morta, D. Inês como rainha, obrigando todos na corte a beijar a mão da rainha morta e a reconhecê-la como a rainha legítima.
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A coroação póstuma de D. Inês de Castro, por Pierre-Charles Comte, 1849 |
D. Pedro reinou durante um período de dez anos de paz, não se envolvendo em lutas com Castela. Foi um monarca que se preocupou muito com a justiça, mas muitas vezes tomava decisões por capricho, tendo mandado executar várias pessoas. O povo gostava muito dele, apesar de ser algo obstinado e um homem muito instável. D. Pedro morreu em 1367.
– No Mosteiro de Alcobaça –
A Abadia de Santa Maria de Alcobaça é um dos mais antigos e maiores edifícios religiosos de Portugal. Fundada no século XII pelos monges da Ordem de Cister, as obras da sua construção começaram em 1178 e terão durado pelo menos até 1252 (altura em que terminaram os edifícios principais).
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Túmulo de D. Pedro I (pormenor), Mosteiro de Alcobaça |
Foi neste mosteiro que D. Pedro mandou construir, em 1360, túmulos para si e para D. Inês. Estes túmulos são verdadeiras obras-primas da escultura medieval portuguesa. Ricamente decorados, cada túmulo apresenta o corpo esculpido de um dos amantes, mostrando muitos pormenores das figuras do rei e de D. Inês. Apoiadas por anjos, as cabeças de ambos estão um pouco levantadas. Reza a lenda que os dois apaixonados estão nesta posição para, quando chegar o dia do Juízo Final e ambos voltarem à vida, se poderem logo ver um ao outro.
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Túmulo de D. Inês de Castro, Mosteiro de Alcobaça
Fonte: Ruben Castro e Ricardo Ferrand, Grandes datas de Portugal (1096-2007), Texto Editores, Lisboa, 2011.
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