A origem da expressão leva-nos até à Idade Média e aos famosos ordálios ou juízos de Deus. Estes julgamentos de carácter religioso consistiam em submeter os réus a uma prova cujo desfecho considerava-se estar nas mãos de Deus. Existiam dois tipos de ordálios: os bilaterais, opondo duas pessoas, e os unilaterais, em que o arguido se encontra só perante a decisão divina. Entre os bilaterais, existia o ordálio da cruz em que dois réus são amarrados a uma coluna com os membros superiores livres. Ambos deviam colocar os braços em cruz; o primeiro a baixá-los era considerado culpado. Daí a expressão “baixar os braços” quando alguém desiste de algo. Entre os unilaterais, a prova pelo ferro incandescente (ferrum candens) era das mais frequentes. A prova consistia em segurar um ferro aquecido ao rubro num percurso de nove passos. As mãos eram ligadas com estopa e colocadas num saco em pele selado com cera. Três dias depois o selo era desfeito e as mãos examinadas. Se as queimaduras tivessem cicatrizado então o réu era ilibado. Pelo contrário, uma má cicatrização era sinal da reprovação de Deus: o arguido era considerado culpado e, por conseguinte, condenado a uma pena proporcional ao estado das suas chagas.
Outros tempos, em que o lugar do divino não dava margem à justiça secular, em que não se concebia que Deus, omnipotente e omnisciente, pudesse fazer sofrer um inocente…
Domenico GHIRLANDAIO, A prova do fogo
(fresco da Capela Sassetti, séc. XV, Igreja da Santa Trindade, Florença, Itália)
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