– Portugal cresce para sul –
Reconhecido o reino de Portugal (com o Tratado de Zamora em 1143), era necessário continuar a aumentar o território reconquistando mais terras aos Mouros. A capital de Portugal ficava então em Coimbra (a primeira capital do reino independente), junto do rio Mondego que marcava a fronteira do reino. A partir daqui seriam lançadas novas campanhas contra os Mouros. A expansão do território fez-se para sul, procurando sempre tomar as cidades mais importantes, que funcionariam depois como bases de apoio a novas conquistas. Após a reconquista de Leiria, em 1145, tornou-se mais fácil planear a tomada das cidades situadas junto do rio Tejo, a porta de entrada para o sul. D. Afonso Henriques começou por conquistar Santarém, em março de 1147. O passo seguinte seria a cidade de Lisboa. Era uma das maiores cidades no ocidente da Península Ibérica, dominando uma região muito grande e rica em produção agrícola. Além disso, estava muito bem defendida pela sua localização geográfica e era também um porto muito importante.
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O cerco de Lisboa, aguarela de Alfredo Roque Gameiro (1917) |
Em julho de 1147, D. Afonso Henriques pôs cerco a Lisboa. Os Mouros resistiram durante muito tempo, pois não queriam perder esta grande cidade. Porém, em outubro, contando com a ajuda de guerreiros cristãos (cruzados) vindos do norte da Europa, o monarca português conseguiu finalmente derrotar os Mouros e tomar Lisboa. A 25 de outubro de 1147, D. Afonso Henriques penetra nas muralhas da cidade. A tomada da cidade fora narrado numa carta, De expugnatione Lyxbonensi, da autoria do monge beneditino Osberto de Bawdsey que muito provavelmente acompanhara cavaleiros ingleses rumo às Cruzadas. Lisboa é saqueada pelos Cruzados e as populações muçulmanas retiram-se para sul. Foram também conquistadas Sintra, Almada e Palmela, outras localidades que ajudavam à defesa da cidade. A conquista de Lisboa foi muito importante, pois permitiu a D. Afonso Henriques atravessar o Tejo e iniciar conquistas no Alentejo onde ficavam algumas das cidades muçulmanas mais importantes e também mais ricas como Évora e Beja. Portugal crescia, assim, em direção ao sul (daí a forma alongada do território português).
– Entalado na porta –
O cerco a Lisboa durou mais de três meses e os Mouros ofereceram grande resistência aos ataques dos Cristãos. Reza a lenda que a cidade só foi conquistada porque um dos soldados portugueses, de seu nome Martim Moniz, se deixou entalar na porta do castelo para que os seus camaradas de armas conseguissem entrar na fortaleza moura e derrotar os defensores da cidade.
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O entalado, escultura de José João Brito na estação Martim Moniz do metropoliano de Lisboa |
– Cruzadas e Cruzados –
No final do século XII, o papa Urbano II pregou à Cristandade a necessidade de se recuperar, das mãos dos Muçulmanos, a Terra Santa (a Palestina), onde se localiza Jerusalém, a cidade onde Jesus Cristo tinha sido morto há mais de mil anos. Muitos nobres europeus, e até mesmo alguns reis (como acontecera com Ricardo I de Inglaterra, o famoso “Coração de Leão”, ou ainda Luís IX de França, o célebre São Luís) responderam ao apelo do Papa e partira para a conquista da Terra Santa. Os guerreiros que participaram nestas expedições militares, a que se deu o nome de Cruzadas, eram conhecidos como cruce signati, os Cruzados – usavam longas túnicas brancas com uma cruz vermelha pintada. Estas expedições militares tiveram, de início, um grande sucesso – os Cristãos conseguiram mesmo conquistar Jerusalém e estabeleceram até alguns estados cristãos na Palestina.
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Iluminura do final do século XIII representando o rei de França, São Luís,
partindo para Chipre a caminho da sétima Cruzada (1148) |
Foi com a ajuda de uma expedição de Cruzados que se dirigiam para a Palestina que D. Afonso Henriques conseguiu conquistar a cidade de Lisboa aos Muçulmanos. A Reconquista Cristã era considerada a Cruzada do Ocidente, pelo que foi fácil convencer estes Cruzados a participar neste combate, pois era também para eles um combate em defesa da fé cristã.
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Algumas das várias ordens religiosas-militares que se investiram nas Cruzadas |
– De Olisipo a Lisboa –
O local onde hoje se situa a atual capital portuguesa já era habitado desde a Pré-História (Neolítico). Não se conhecem muito bem as origens da povoação que viria a tornar-se Lisboa, mas uma das hipóteses remonta aos Fenícios, povo comerciante do Mediterrâneo, que terão iniciado o povoamento na colina onde hoje se encontra o Castelo de São Jorge. O porto natural de Lisboa, no estuário do Tejo, seria um ótimo abrigo para os navios fenícios nas suas viagens para o norte a Europa. No período romano, a cidade seria chamada Felicitas Iulia Olisipo, ficando conhecido por Olisipo. Não se conhece a origem deste nome, o que fez surgir muitas teorias e lendas, entre as quais a de que a cidade teria sido fundada pelo mítico herói grego Ulisses.
Lisboa cresceu e,
no século XII, quando foi conquistada pelos Cristãos aos Mouros (que então lhe
chamavam de Al-Usbuna), era uma das maiores cidades muçulmanas na Península
Ibérica. Dizia-se que teria perto de 100 mil habitantes, número muito exagerado
já que não deve ter passado dos cinco mil. Apesar da sua importância – quer
pela sua localização (dominando o estuário do Tejo e ponto fundamental na
ligação entre o norte e o sul) quer por dominar uma região rica e de clima
ameno –, só no século XIII, no reinado de D. Afonso III, é que Lisboa viria a
ser elevada a capital do reino.
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A mais antiga representação conhecida da cidade de Lisboa, presente na Crónica de D. Afonso Henriques
da autoria de Duarte Galvão (inícios do séc. XVI) |
Para saber mais:
http://ensina.rtp.pt/artigo/as-cruzadas-e-os-estados-cruzados/
http://portugalglorioso.blogspot.fr/2014/10/25-de-outubro-de-1147-dafonso-henriques.html
http://www.ricardocosta.com/artigo/mentalidade-de-cruzada-em-portugal-secs-xii-xiv
http://pt.wikipedia.org/wiki/Osberno
http://pt.wikipedia.org/wiki/De_expugnatione_Lyxbonensi
http://ensina.rtp.pt/artigo/vestigios-romanos-em-lisboa/
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